ENCONTRO INESPERADO

Estou sentada na carteira da terceira fileira, abaixo de um ventilador. Na minha mesa há somente uma caneta; um caderno, cuja folha só tem escrito a data de hoje e o nome da disciplina, e meu celular. Enquanto a professora falava sobre um assunto que não dava a mínima, meus olhos estavam fixos em um ponto a minha frente e minha mente vagava no ócio do tédio, até parece que estou morta. Percorro os olhos até um relógio, que fica em cima do quadro branco, e vejo marcar 10h20min, faltando ainda um pouco mais de uma hora pra encerrar o horário. Que saco!

Me assusto com o celular vibrando na mesa. É uma MSG avisando que havia dado match no famigerado Tinder. Abro um meio sorriso, pois aquele alerta poderia ser a salvação para aquele momento. Ligo o aplicativo e vejo que combinei com uma garota linda, cujo sorriso era dono de belos dentes. Seus olhos eram castanhos e sua pele negra. Vejo todas as fotos do álbum e decido falar.

"Oi, tudo bem? Bom dia... :)" - Envio a MSG e largo o celular na mesa, porém ela respondeu tão rápido quanto uma pessoa recém apaixonada.
"Oi, tudo sim e com você, linda? Fala de onde?"
"Moro em Bauru, mas no momento estou na aula. Fica aqui na Estévia. E você?"
"Estévia? Sério? Ai que mara... moro nesse bairro. Você é uma garota muito bonita..."

A aula naquele momento já não significava mais nada, pois minha atenção estava focada 100% na conversa que estava tendo com Amanda.

Depois de muito papo jogado fora, resolvemos nos encontrar naquele momento. Ela me chamou pra ir na sua casa que ficava a cerca de 10 minutos de onde estudava. O relógio marcava 10h40min, então me levanto devagar, para não fazer muito barulho e atrapalhar a aula, pego minhas coisas e saio da sala. Caminho rápido até a saída do prédio para que não seja barrada por algum amigo no corredor, pois não quero perder muito tempo. Amanda disse que sua mãe estava no trabalho e que chegaria em casa no turno da tarde.

Ando três quarterões até chegar no endereço da garota. Confiro no celular se estava no lugar certo e então bato na porta, mas ninguém atende. Envio MSG no celular dela e bato mais uma vez para garantir que ela ouça, porém não tenho resposta. Fiquei chateada por caminhar uns 10 minutos e ter ficado na mão.

Viro de costa para ir embora, quando ouço a porta abrir e uma voz doce falar:

- Oi, Bia...desculpa a demora. Estava na parte de trás da casa.

Me viro para falar com ela e fico pasma com a beleza da garota. Ela estava usando um short curto despojado e uma camisa regata cortada, dessas que usamos para fazer a faxina de casa. Seu cabelo cacheado estava preso mostrando seu pescoço, e sua pele era bem fina e hidratada.

- Ah... oi... - dei dois passos em sua direção - Sou eu, a Bia. Prazer! - Sorrio um pouco tímida, pois não esperava ser recebida por uma gata daquelas.
- Prazer... - Ela veio em minha direção com um sorriso quente e deu dois beijos no meu rosto, um em cada lado - Pode entrar, vem... Desculpa a forma que estou te recebendo, é porque estou fazendo faxina aqui em casa. - Ela me puxou para dentro e fechou a porta logo em seguida - Pode ficar a vontade. Se você não se importar, irei só terminar de limpar algumas coisas. Minha mãe não demora a chegar em casa e to enrolando desde cedo.
- Claro que não me importo, você já havia falado sobre o lance de sua mãe, inclusive posso ajudar você pra ser mais rápido. - Ando em direção ao sofá e jogo minha bolsa e meu casaco nele. A única coisa que eu queria naquele momento era que aquela maldita faxina nunca existisse para que ficássemos a vontade.
- Sério?? Ai que gentileza sua... - Ela veio até mim e me deu um abraço forte. Consegui sentir o cheiro de seu perfume, era muito bom - Então vamos lá pra trás que temos muito o que fazer.

Amanda parecia animada com minha presença ali. Sempre sorridente e falando de como era seu dia, seus amigos e o que gostava de fazer. Primeiro começamos pelo quintal, enquanto eu varria os lixos e as folhas secas, ela juntava tudo e colocava em um saco grande. Depois desse trabalho todo, fui a varanda pegar as roupas secas do varal e colocar as sujas na maquina de lavar. Mandinha passou o ferro e dobrou todas para guardar. Parecia um trabalho sem fim, pois logo em seguida varremos toda a casa e passamos o pano nos cômodos.

Já estou começando a ficar exausta quando paramos para descansar um pouco. Me sento na cama de Amanda porque minhas pernas estão doloridas. Por Deus, qual foi a última vez que fiz uma faxina? Preciso reavaliar meus conceitos de não sedentarismo.

Estávamos conversando sobre relacionamento quando tudo aconteceu de forma rápida. Começamos a nos beijar loucamente. Suas mãos passeavam pelo meu corpo e as minhas faziam o mesmo com o dela. Enquanto nos beijávamos e trocávamos carícias ardentes, penso o quão maravilhoso foi receber aquele alerta, pois naquele momento beijava um anjo.

Percebo que as coisas estão quentes quando começo a tirar sua blusa. Por um momento, Amanda para de me beijar e mantem seus olhos fixos em mim.

- Você é linda... - Ela fala baixo.
- Você também... - Sorrio um pouco tímida e volto a beija-la.
- Espera - Ela para de forma assustada - Minha mãe vai chegar e encontrar a casa bagunçada. Vamos terminar logo com tudo para que possamos ficar mais a vontade.
- Verdade... - Falo um pouco desanimada, afinal de contas meu intuito não era pagar de diarista.

Nos levantamos da cama e fomos limpar os outros cômodos da casa. Arrumamos os três quartos, varremos e lavamos o terraço, banhamos os cachorros e limpamos a piscina. Terminamos todas as tarefas e fomos ao sofá da sala. Me deito nele completamente exaustas ao ponto de não conseguir raciocinar direito, mas ainda queria curtir um pouquinho mais de romance com Amanda.

- Nossa... já são 16h00min, minha mãe já deve ta chegando - Amanda se levanta do sofá assustada e logo percebo que a hora de ir embora tinha chegado.
- Verdade, sai de casa de manhã pra ir a aula e não dei notícias de nada a ninguém. Minha mãe deve estar preocupada, acho que vou indo. - Minha esperança era de que ela pedisse pra ficar, mas sabia que isso não iria acontecer.

Me levanto do sofá, pego minha bolsa e vou em direção a porta. Amanda me acompanha até lá.

- Nossa, Bia... você foi um anjo. Muito obrigada por ter me ajudado a arrumar a casa, nem sei o que seria de mim sem sua ajuda - Eu já estava do lado de fora quando ela começou a agradecer.
- Que nada, não precisa agradecer. Estamos aqui pra isso...
- Você é maravilhosa - Ela me deu um abraço forte e me fez sentir novamente o seu cheiro - Vamos combinar de nos vermos novamente quando eu estiver só. Mando MSG pra você!
- Tudo bem. - Sorrio.

Amanda foi para dentro de casa e fechou a porta. Fico ali parada olhando pra porta fechada na minha frente sem acreditar no que acabou de acontecer. Foram horas de trabalho doméstico em um date totalmente fora do normal. Viro de costas e ando em direção a parada de ônibus, na minha cabeça a única coisa que passa é: "Você é uma panaca"

Ah, Tinder... como te odeio!


Marcus Rafael R. L Vieira